sábado, 29 de agosto de 2009

Entre o Espaço e o Tempo


nas palavras que escrevo
retirando de mim
a essencialidade do nada

Volto ao meu limite
num indisfarçável temos
vendo que nada sou
e o que perdi
é acrescentado em ti

Sou fruto do Universo
enviada em cores
nas gotas de orvalho
exposta ao delírio do destino

Aporto em ilhas de sonhos,
nos lampejos da coragem
indo além de todos meus passos,
encontrando sentido nos desejos
e na realidade,
perco minhas máscaras


Conceição Bentes

"Bailado de uma saudade..."


E quando um olhar
entristecido
Confrontou-se
Com a lua,
Ela não soube o
Que fazer...
Somente encheu-se
De brilho e em
Silêncio pôs-se a
Admirar a saudade
Vestida de gotas
Cintilantes,
Bailando naquele
Olhar...

(Cida Luz)

Trago-te flores!


...E o vento sopra a flor,
não há espaços vazios,
não há espaços em dor,

é forte o calor que arde,
não há sombra no caminho,
é forte o calor da tarde,

mas vejo em cada flor,
alguns sorrisos vadios,
são sorrisos de amor,

palpita-me o coração,
já não caminho sozinho,
tenho flores em minhas mãos.

Santaroza

No soar das sete


E quando é sete do sétimo
O badalar sonoro de uma nota só
Vem lembrar de um ranger
Num vibro que desce da matriz
Infiltrando no silencio, nos capins, e afins,
Feito o grito de um anjo
Ecoando, ecoando até mim...

E na sétima do sétimo
É a hora de orar,
De pedir, agradecer, perdoar...
Com as palmas coladas a aquecer a fé
Não tardando agradecido,
Os sorrisos, que sorri e que fiz e recebi.

Ah! Senão soa o sino
As sete do sétimo e me faz lembrar
Que depois de sorrir, preciso pensar,
Refletir, meditar...
- eu só, um instante só, neste mundo?
Não! Não dá.
Seria um verde sem folhas,
Nem frutos e nem flores...


...........” Catarino Salvador “.

'ROSEIRA BRAVA'


Há nos teus olhos de ouro um tal fulgor
E no teu riso tanta claridade,
Que o lembrar-me de ti é ter saudade
Duma roseira brava toda em flor.

Tuas mãos foram feitas para a dor,
Para os gestos de doçura e piedade;
E os teus beijos de sonho e de ansiedade
São como a alma a arder do próprio amor!

Nasci envolta em trajes de mendiga;
E, ao dares-me o teu amor de maravilha,
Deste-me o manto de ouro de rainha!

Tua irmã... teu amor... e tua amiga...
E também - toda em flor - a tua filha,
Minha roseira brava que é só minha!...


Florbela Espanca

Mar e Lua


Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar
E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepio
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua
Correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Rolando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar

Chico Buarque

Arroubos


Tu não viste ainda o chegar
das horas, foram passos
que dei, na esperança
que tu os ouvistes, tua
madrugada era triste... lá se
foram arroubos da minha
juventude, se foram meus
mais tenros beijos que dar-te
eu pude... não fora os anos
que passaram por ti, o tempo
deixou em ti parado... enciumado
e distante no tempo esperado.

Arruda Bonfáh